segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Considerações Sobre a Primeira Eucaristia

Nem a fé nem a disciplina eclesiástica nos autorizam a sermos muito severos e muito exigentes para a admissão dos pequeninos à Comunhão.

Poderá, pois, não ser indicado instituir nem uma longa preparação catecumenal nem um verdadeiro exame.

Devem os Pastores, neste caso, fiar-se, sobretudo nos educadores naturais: pais e professores conscienciosos. No caso de uma criança, aliás, a introdução, na sua educação, de uma personagem não habitual, e, sobretudo cercada de certo prestígio, como o sacerdote, pode provocar o contrário de uma abertura ao mistério, e um verdadeiro bloqueio psicológico.

Uma criança pode muito bem aparecer-nos como não sabendo nada, mais por medo do que por ignorância real. Aliás, em todo tempo, mas, sobretudo nessa idade, a Religião é uma orientação de vida antes que uma soma de conhecimentos.

Nosso papel consiste, sobretudo em aceitarmos as crianças para a Comunhão desde que seus educadores responsáveis no-las apresentem achando estarem elas suficientemente preparadas.

SOBRE A INICIAÇÃO À EUCARISTIA
Por ser esta a eucaristia que Jesus nos mandou celebrar, a primeira comunhão é o ponto final da preparação para viver com Jesus e como Jesus, doando e entregando-se em tudo aos irmãos e a Deus, e para celebrar esta doação e entrega na missa e nas outras formas de culto eucarístico.
A primeira comunhão é ponto final. Mas ponto final da iniciação, da preparação para esta vida plenamente cristã. O que se visa com uma preparação ou iniciação não é o ponto final da mesma, mas aquilo que deve vir depois. Isto é, em nosso caso, se focalizarmos bem, a celebração contínua da eucaristia. Esta, no entanto, não tem sentido se ela não é celebração daquilo que se vive; e ela não é possível, a não ser em comunidade.

A PASTORAL DA PRIMEIRA COMUNHÃO
A SITUAÇÃO
No passado a eucaristia normalmente não era celebração da vida, nem uma ação realmente comunitária. Era mais um ato isolado em si, de pessoas que não estiveram vivencialmente ligadas entre si. Num ambiente impregnado pelo sacralismo, onde havia uma consciência forte de obrigatoriedade de determinados atos religiosos, com o apoio da família e da sociedade, muitos eram firmes em sua obrigação de assistir à missa. Evidentemente, onde não havia padres e quando não eram dadas as condições indicadas, o catolicismo era menos marcado pela eucaristia e mais pelas devoções populares.

Hoje, sobretudo nas grandes cidades, falta, quase geralmente, o apoio da família e da sociedade. Se o indivíduo não está inserido numa comunidade viva e se ele não tem a visão da eucaristia como celebração da vida, em geral a missa não tem muito sentido para ele. A televisão, o esporte e outros divertimentos lhe dizem, então, mais.

Como o batismo para quase todos, assim também a primeira comunhão para muitos, tem ainda um valor religioso, embora dominem freqüentemente motivos de cunho mais social. Em todo caso, esta motivação não é suficiente para uma vivência constante da eucaristia como ponto culminante e fonte de força da vida cristã. Falta a base de fé e vivência. Faz-se ainda a primeira comunhão, mas ela não é ponto de partida, e sim somente ponto de chegada, um tipo de formatura religiosa que não têm conseqüências práticas numa vida à qual deveria ter iniciado.
Parece que assim podemos compreender a situação que encontramos normalmente em nossas paróquias e grandes comunidades: um número relativamente grande de crianças faz a primeira comunhão; mas no domingo seguinte, poucas destas crianças voltam à igreja, à missa, à mesa do Senhor. A perseverança na adolescência e juventude é mínima. Quem não entra num grupo de perseverança, num grupo de adolescentes ou de jovens, na maioria das vezes nem dá o passo sacramental ulterior que seria o sacramento da confirmação. [...]
Falando geralmente de crianças que se preparam para a primeira comunhão, não excluímos candidatos adolescentes, jovens ou adultos. Via de regra vale tudo que se diz para todos eles; se não, pode facilmente ser adaptado à situação diferente destes grupos.

AS CAUSAS
Agora não consideraremos mais as causas históricas que levaram à situação descrita. Limitamo-nos às causas imediatas que encontramos na ação pastoral hoje.

A. Várias causas mais aparentes
A preparação para a primeira comunhão se faz em nossas grandes comunidades, normalmente em grupos de crianças que são confiados a catequistas. As crianças reúnem-se semanalmente e recebem em geral, durante o ano letivo, aulas de catequese. Observa-se um grande esforço de dinamizar estas reuniões e de torná-las interessantes. Cria-se lugar para atividades não apenas intelectuais, mas também de outro tipo, como desenho, canto, jograis. Procura-se também a ligação entre fé e vida, partindo da vida da criança e levando-a a uma vivência dos compromissos batismais que serão renovados na celebração da primeira comunhão.
Igualmente dá-se valor à dimensão comunitária da vida cristã. E esta se procura viver particularmente no grupo que se está preparando, às vezes também junto com outros grupos iguais ou semelhantes da mesma comunidade. Normalmente Jesus Cristo é colocado no centro desta iniciação como aquele de quem a criança se aproxima e a quem ela quer melhor conhecer e mais amar. Em geral dá-se um lugar central também à Bíblia que ensina os Mistérios de Cristo e da Igreja e que orienta para uma vida cristã.

No entanto, raramente deixa-se bastante claro e explícito que a eucaristia, para a qual o grupo se prepara, é o ponto culminante de celebração da fé e da vida. Nos subsídios de preparação para a primeira comunhão que temos à disposição (de cerca de 30 autores) quase nunca encontramos aquela dimensão na qual insistiu o Concílio Vaticano II, no artigo 10 da sua Constituição sobre a Sagrada Liturgia: "A liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte de onde emana toda a sua força".

B. Duas causas mais profundas
Constatamos que na preparação para a primeira comunhão faltam, em geral, as verdadeiras celebrações. Uma verdadeira iniciação à celebração, no entanto, se faz celebrando. Encontramos às vezes roteiros para "celebrações". Mas são antes jograis e reflexões comunitárias. Elas ficam normalmente em palavras. Faltam gestos e ritos. Não há festividade. O objetivo parece ser transmissão de idéias, não celebração do Mistério de Cristo e da vida humana. É verdade que as liturgias das nossas comunidades são freqüentemente deste tipo. Mas como estas não são atraentes para os adultos, menos ainda as crianças podem se entusiasmar por tais "celebrações" e nelas vibrar.

Uma outra dificuldade, num processo de verdadeira integração na liturgia central da comunidade cristã, é o fato de que as celebrações para as crianças são às vezes infantis no sentido pejorativo da palavra. Elas são fechadas no ambiente das crianças e não levam à celebração da comunidade dos adultos. Elas bloqueiam mais do que abrem. A criança, que talvez ainda gosta de tais celebrações e se acostuma com elas, não se sentirá à vontade nas celebrações dos adultos que, para ela, são um outro mundo, ao qual assim não é introduzida. Na medida em que a criança cresce ela não aceita mais as celebrações infantis e, não tendo acesso às dos adultos, desiste simplesmente.

A falha mais grave, no entanto, no processo de iniciação parece ser que não há uma verdadeira introdução na comunidade eclesial. O grupo das crianças que se preparam para a primeira comunhão não é esta comunidade. Este grupo se dissolve. Ela pode ter certa continuidade em grupos de perseverança, de adolescentes e jovens, mas também estes não são a comunidade autêntica da qual fazem parte pessoas de todas as idades e camadas, em real convivência e comunhão também na liturgia.

Fazem-se vários esforços para superar esta dificuldade. Já os catequistas podem ser vistos nesta perspectiva, pois eles são para as crianças os representantes da comunidade. As várias atividades dos membros e dos grupos da comunidade são oportunamente apresentadas às crianças. Elas participam de celebrações litúrgicas e de festas da comunidade. Às vezes são levadas a se comprometerem com os pobres da própria ou de outras comunidades. Tudo isso é mais fácil e mais eficiente quando os pais seus filhos. Por isso estes são convidados, pelo menos uma ou outra vez, durante o tempo de preparação dos filhos para a primeira comunhão, para receberem orientações dos catequistas e de outros agentes.

Mas tudo isso não parece ser suficiente para uma introdução eficaz das crianças na vivência da comunidade eclesial, sobretudo quando a própria família não participa ativamente da vida da comunidade. Atividades deste gênero são cumpridas como uma obrigação, mas não se passa a uma identificação interior com a comunidade. A conseqüência é que a vida e a celebração desta vida, às quais a preparação para a primeira comunhão deveria iniciar, não são assumidas com perseverança.

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